terça-feira, 4 de outubro de 2011

Marque com X Ailin Aleixo

            Durante muito tempo acreditei que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Ficava enfeitiçada com citações, elucubrações e teses. Mas não era. De nada adianta um perito em física nuclear, se ele não rir das pequenas besteiras que faz, se não souber aproveitar um sábado quente simplesmente não fazendo nada (e curtindo o ócio), se virar um psicopata quando alguém o fecha no trânsito. Então saquei: bom humor era o que mais me atraía.
            Sempre achei delicioso estar com alguém que não vê o mundo como uma grande e monstruosa boca cheia de dentes prestes a mastigá-lo, que vive sem arrastar correntes, faz de tudo uma possível piada. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, tudo o que quero é alguém que me escute e diga algo que me conforte a alma. E, nesses momentos, o pior que pode acontecer é ser levada na piada - existe uma grande diferença entre alegria de viver e recusa a sair da infância. Pois é, não era bom humor o que me fazia amar alguém: era, antes, sensibilidade.
            Telefonemas de bom-dia, atenção a informações aparentemente banais mas que dizem muito a meu respeito, não ficar azedo e arredio por causa das minhas pequenas (ou grandes) oscilações de humor - tudo o que eu podia querer. Quase tudo. Tenho personalidade forte e só sobrevive ao meu lado um homem que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas tenho que sentir que quem está comigo é um homem de verdade e não um principezinho criado pela avó. Quero ser domada, tomada. Mais uma vez minha certeza caiu por terra: nem inteligência, bom humor ou sensibilidade eram o que me fazia amar alguém. Era - isso, sim - virilidade.
            Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha, ser jogada na mesa de jantar sem tempo pra pensar no que está acontecendo, só sentir e saber o tesão incontido daquele homem por mim. Ser desejada com urgência e paixão é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta, pelo menos não depois da décima trepada monumental: quando acaba o suadouro, o que resta? Se pouco importa o saldo, o que interessa mesmo é a movimentação, então estamos feitos. Mas, se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhada de carinho. Taí: pensei, então, que carinho era a pedra fundamental pra despertar meu amor.
            Mas logo descobri que não era. Carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora para alguém que pouco nos importa mas a quem também não queremos mal. Não bastava, era muito pouco. Daí constatei que o essencial para que eu amasse alguém era notar no outro a vontade de ficar, o desejo de estar comigo. Constatei coisas demais e fiquei paralisada diante do ideal que havia criado: absurdo e fictício.
            Hoje sei que toda enumeração é uma estupidez e qualquer tipo de formulário emocional, uma passagem sem escalas pra frustração. Claro que gosto de homens cultos, atenciosos, interessantes, divertidos e viris - seria mentira negar. Mas a verdade é que, para que eu ame alguém, basta que eu ame alguém. Porque, quando se precisa justificar o amor, é porque ele não existe. Simples assim.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Gostar de Mulher


Em uma exposição de fotografias, ouvi a seguinte frase do fotografo:

“Para fotografar nu feminino,
é preciso gostar de mulher".
Eu sorri, porque na minha cabeça aquilo parecia meio óbvio...
mas antes que qualquer um fizesse algum comentário, ele completou:
- Não se trata de gostar de mulher no sentido sexual,
- ter tesão por mulher nua, essas coisas.
Isso pode ter também.
Mas, se trata de gostar de mulher, em um sentido mais profundo.
Gostar do universo feminino.
Observar que cada calcinha é única,
tem uma rendinha diferente e ficar entretido com isso
- afirmou.
Não basta ser heterossexual, o machão latino.
Para gostar de verdade de uma mulher,
são necessários outros requisitos que são raros.
Por isso a mulherada anda insatisfeita.
Sensibilidade é fundamental.
Paciência também.
O homem que não tem paciência para escutar a necessidade que a mulher tem de falar,
ou sensibilidade para cativá-la a cada dia, não gosta de mulher.
Pode gostar de sexo com mulher.
O que é bem diferente.
Gostar de mulher é algo além.
É penetrar em seu universo,
se deliciar com o modo com que ela conta todo o seu dia, minuto por minuto, quando chega do trabalho.
Ficar admirando seu corpo,
ser um verdadeiro devoto do corpo feminino,
as curvas, o cabelo, seios.
Mas também cultuar a sagacidade feminina, sua intuição,
admirar seu sorriso, que é muito mais espontâneo que o nosso.
Gostar de mulher é querer fazê-la feliz.
Levar flores sem nenhum motivo a não ser o de ver seu sorriso.
É escutar pacientemente todas as queixas.
O homem que gosta de mulher não está preocupado em quantas mulheres ele comeu durante a vida, mas sim,
com a qualidade do sexo que teve.
Quantas mulheres ele realizou sexualmente, fazendo-as se sentirem desejadas, amadas, únicas, deusas, na cama
e na vida.
O homem que gosta de mulher, não come mulher.
Ele penetra não só no corpo, mas na alma, respirando, sentindo, amando cada pedacinho do corpo, e, é claro,
da personalidade.
"Para viver um grande amor é necessário ser de sua dama por inteiro", afirmou Vinícius de Moraes no poema;

Para amar verdadeiramente
uma mulher, o homem deve ser
totalmente fiel... traí- la, jamais!
Amá-la até a raiz dos cabelos.
Admirá-la, se deixar apaixonar todo dia pelo seu sorriso ao despertar...
e principalmente conquistá-la, seduzi-la, como se fosse a primeira vez.
O homem que não tem paciência, nem tesão,
nem competência para lhe seduzir várias e várias vezes, esse, não se iluda... não gosta nem um pouco de mulher.
Conquistar o corpo e a alma de uma mulher é algo tão gratificante que tem que ser tentado várias vezes.
O homem que não tem paciência, nem tesão,
nem competência para lhe seduzir várias e várias vezes, esse, não se iluda...
não gosta nem um pouco de mulher.
Conquistar o corpo e a alma de uma mulher é algo tão gratificante que tem que ser tentado várias vezes.
Só que alguns homens, os que não gostam de mulher,
querem conquistar várias mulheres.
Os que gostam de mulher é que conquistam várias vezes,
a mesma mulher.
E isso nos gratifica, nos fortalece e nos dá uma nova dimensão.
A dimensão da poesia, do amor e em última instância,
do impenetrável universo feminino.
Gostar de mulher e penetrar em seu universo,
não é torná-las cativas, e, sim, libertá-las, admirá-las em sua insuperável liberdade.
Uma das músicas com que mais me identifico é uma em inglês – por incrível que pareça.
“Have you really ever loved a woman.”
É do cantor Bryan Adams.
A música foi tema do filme Don Juan de Marco,
e em uma tradução livre, quer dizer
“Você já amou realmente uma mulher?".
Em toda a música o cantor fala sobre a necessidade de se conhecer os pensamentos femininos,
sonhos, dar-lhe apoio, para amar realmente uma mulher.
Essa música é perfeita.
Como se vê, gostar de comer mulher, é fácil.
Agora... gostar de mulher, é dificílimo!
Desconheço a autoria


Have You Ever Really Loved A Woman? (tradução)
Bryan Adams

Have You Ever Really Loved A Woman?
(Você realmente já amou uma mulher?)
Brian Adams

To really love a woman, to understand her
Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la,
You gotta know her deep inside
Você precisa conhecê-la profundamente por dentro,
Hear every thought - see every dream
Ouvir cada pensamento - ver cada sonho,
N' give her wings - when she wants to fly
E dar-lhe asas - quando ela quiser voar.
Then when you find yourself lyin'
Então, quando você se achar repousando
Helpless in her arms
Desamparado nos braços dela,
Ya know ya really love a woman
Você saberá que realmente ama uma mulher...
CHORUS
When you love a woman
Quando você ama uma mulher,
You tell her that she's really wanted
Você lhe diz que ela realmente é desejada.
When you love a woman
Quando você ama uma mulher,
You tell her that she's the one
Você lhe diz que ela é a única
Cuz she needs somebody to tell her
Pois ela precisa de alguém para dizer-lhe
That it's gonna last forever
Que vai durar para sempre.
So tell me have you ever really
Então diga-me: você realmente,
Really really ever loved a woman?
Realmente, realmente já amou uma mulher?
To really love a woman
Para realmente amar uma mulher,
Let her hold you
Deixe-a segurar você,
Til ya know how she needs to be touched
Até que você saiba como ela precisa ser tocada.
You've gotta breathe her - really taste her
Você precisa respirá-la - realmente saboreá-la
Til you can feel her in your blood
Até que você possa sentí-la em seu sangue.
N' when you can see
E quando você puder ver
Your unborn children in her eyes
Suas crianças que ainda não nasceram dentro dos olhos dela,
Ya know ya really love a woman
Você saberá que realmente ama uma mulher
CHORUS
You got to give her some faith -
Você precisa dar-lhe um pouco de confiança -
Hold her tight
Segurá-la bem apertado,
A little tenderness - gotta treat her right
Um pouco de ternura - precisa tratá-la bem.
She will be there for you, takin' good care of you
Ela estará perto de você, cuidando bem de você,
Ya really gotta love your woman...
Você realmente precisa amar sua mulher...
And when you find yourself lying
Então, quando você se achar repousando
Helpless in her arms,
Desamparado nos braços dela,
You know you really love a woman.
Você saberá que realmente ama uma mulher...
CHORUS
So tell me have you ever really ...
Então diga-me: você realmente,
Really, really ever loved a woman?
Realmente, realmente já amou uma mulher?
So tell me have you ever really ...
Então diga-me: você realmente,
Really, really ever loved a woman?
Realmente, realmente já amou uma mulher?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O que quer uma mulher


Uma mulher quer que suas unhas não quebrem nem descasquem. Uma mulher quer se sentir atraente com o peso que tem. Uma mulher quer ver seu trabalho valorizado. E quer ganhar dinheirop com ele. Uma mulher quer ser amada. Quer viver apaixonada. E quer se divertir.Uma mulher quer ter filhos. Ou já quis um dia. Uma mulher com filhos quer ter mais tempo pra ela. e uma mulher com tempo de sobra quer uma rotina mais agitada. Uma mulher só não quer o tédio.Uma mulher quer um cabelo que não precise ser constantemente pintado, arrumado, escovado. Uma mulher quer conversar. Uma mulher quer ficar em silêncio. Uma mulher quer que lhe telefonem de surpresa e lhe digam coisas que a façam ficar sem palavras. Uma mulher quer deixar um homem maluco. E ter, ela mesma, o direito de enlouquecer.Uma mulher quer aprender a ser mais egoista. Quer, ao menos uma vez na vida, pensar só nela e em mais ninguém.Uma mulher quer inspirar um poema. Quer ser musa. Mas não quer ser confundida com mulheres que não controlam a própria vaidade e pagam mico nas páginas das revistas.Uma mulher quer colocar comida na mesa e que as crianças raspem o prato, uma mulher quer seus filhos saudáveis e felizes, uma mulher quer que eles durmam a noite toda, de preferência em casa.Uma mulher quer desligar a tevê. Uma mulher quer sexo. Uma mulher quer devorar um pão de meio quilo sem culpa. Uma mulher quer sair bonita na foto. Uma mulher quer dormir mais cedo. Uma mulher quer ser reparada na festa. Uma mulher quer que seu carro não a deixe na mão. Uma mulher quer ser escutada. E quer escutar os homens, que pouco se abrem.Uma mulher quer fazer algo pela sociedade. Quer ajudar quem precisa. Quer ser útil. Em troca, quer que a ajudem com as sacolas. E que a amparem na dor.Uma mulher quer ter o gostinho de dizer não para os cafajestes. Por mais que ela queira dizer sim.Uma mulher quer morrer de rir. Uma mulher quer que não a levem tão a sério. Quer batalhar por seus ideais sem se embrutecer. Uma mulher quer de vez em quando demonstrar seua dotes de atriz. Uma mulher quer brilhar no escuro.Uma mulher quer paz. Uma mulher quer ler mais, viajar mais, conhecer mais. Uma mulher quer flores. Quer beijos. Quer se sentir viva. E quer viver pra sempre, enquanto for bom. Está respondido, doutor Freud. Não somos assim tão complicadas.
(Martha Medeiros)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sensualidade: Veja como exercitar a sua


Acho que as reflexões que temos feito sobre o que torna a mulher sensual estão nos levando a algumas conclusões importantes. Uma delas é a de que despertar o desejo sexual por meio do estímulo visual é uma coisa bastante diferente de ser capaz de responder plenamente às intimidades eróticas. Esta segunda capacidade está relacionada ao crescimento interior, com a certeza de que a mulher tem autocontrole suficiente para se entregar aos prazeres sensuais sem se sentir ameaçada. É o prazer sexual pelo prazer em si, como parte integrante - ou não - de um envolvimento amoroso mais global.
Esta capacidade de se entregar às trocas de carícias sem restrições e preconceitos é muito bem recebida pelos parceiros e isto, é claro, faz um enorme bem à auto-estima das mulheres. Essa auto-estima alimenta-se das respostas que obtemos das pessoas que nos cercam, desde que respeitemos algumas emoções que levam as pessoas a dar respostas negativas a gestos que elas admiram. Estou me referindo principalmente à inveja de algumas mulheres e à insegurança de alguns homens.
Acontece que a auto-estima relativa à sensualidade das mulheres não está apenas na dependência das respostas que elas obtêm de seus parceiros nas relações íntimas. Infelizmente, somos muito influenciados pelo outro ingrediente - fortemente estimulado em nossa cultura atual -, a capacidade de despertar o desejo visual dos homens em geral. E aí a aparência física, a perfeição das formas, tem papel importante.
A mulher poderá fazer, portanto, sua auto-avaliação como figura sexual por dois caminhos distintos: por sua performance durante as relações ou por sua capacidade de atrair olhares de desejo. Se der crédito ao modo como o tema é encarado pela publicidade e à reação inicial dos homens, tenderá a dar maior importância ao segundo aspecto. A capacidade de despertar desejo visual é imediata, e também mais superficial, relacionada antes de tudo à questão da vaidade. Este caminho privilegia a mocidade e o corpo perfeito.
Aquelas que não se sentem em condições de entrar nesta competição se apagam, talvez porque não gostem de se sentir poderosas ou pelo medo do ridículo. Entre elas estão muitas adolescentes que se acham imperfeitas, além de mulheres adultas, principalmente as que se aproximam dos 50 anos de idade.
É verdade que, no que diz respeito à capacidade de despertar o desejo visual, elas perdem para as mais moças. Perdem um pouco por causa das marcas da idade e muito porque a percepção de que despertam menos olhares de desejo as faz inibidas, fechadas, com ar de senhora e roupas correspondentes.
O curioso é que é justamente com a maturidade que as mulheres atingem a plenitude sexual. Aquelas que forem capazes de construir sua auto-estima mais em função do que acontece nas relações íntimas tenderão a se conhecer como criaturas que estão vivendo o seu apogeu sexual e não a decadência - como acontecerá se a avaliação se der em função da aparência. Isto irá provocar um brilho e um vigor novos que transparecerão no modo de ser e de se portar. E mais: será captado pelos homens, que trarão de volta os olhares de desejo tão gratificantes à vaidade feminina. Está criada a mulher madura e sensual. E esta sensualidade não tem data para terminar.
Por Flávio Gikovate – psicoterapeuta

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Poder de sedução Uma reflexão sobre a sensualidade da mulher madura

Quero fazer algumas considerações sobre a mulher que é verdadeiramente sensual, e também sobre como se pode chegar a essa condição. Algumas – a exceção – são sensuais por natureza e desde a mais tenra idade. Mas a grande maioria vai se tornando mais sensual à medida que evolui no caminho da maturidade emocional. O escritor francês Honoré de Balzac sabia disso, tanto que louvou as virtudes eróticas da mulher de trinta anos.
A sensualidade verdadeira se expressa no modo de ser da mulher e se confirma na sua vida íntima. Em contrapartida, a exibicionista só “promete”. Esse tipo de mulher sofre de profunda imaturidade emocional, caracterizada por forte egoísmo e baixa tolerância às frustrações. Usa seus recursos intelectuais e sua sensualidade para obter o que necessita. A isso tenho chamado deinstrumentalização da sexualidade feminina – quando ela está a serviço de outros propósitos em vez do prazer.
A mulher madura é mais independente, emocionalmente auto-suficiente. Tolera melhor as frustrações inevitáveis da vida, e não precisa usar de subterfúgios para se livrar delas. Sua sexualidade fica livre para se exercer como fonte de prazer; não é instrumento ou arma que a ajudará a atingir outros objetivos. Poderá se exercer de modo lúdico, visando apenas à gratificação que a excitação sexual determina.
Com o tempo, a mulher vê sua razão se fortalecer. A maturidadevem acompanhada de um crescente autocontrole. Aquele medo que tantas adolescentes têm de não serem capazes de “domesticar” sua sexualidade vai cedendo lugar a uma sensação íntima de segurança; de que o desejo pode ser vivido com intensidade sem que isso signifique perda de controle sobre as próprias ações. A mulher se torna mais ousada na sua forma de ser e de vestir. Essa ousadia continua na intimidade, onde ela “arrisca” mais e se entrega ao gozo com mais liberdade. A experiência gratificante reforça mais a ousadia que sempre, insisto, se baseia no fortalecimento da razão.
Está composto agora um “círculo vicioso” positivo, onde a auto-estima cresce. A mulher se sente mais atraente e mais competente para a prática sexual. A isso se soma outro ingrediente fundamental, que é a menor preocupação com a perfeição física. Já afirmei que a obsessão com a beleza cria sentimentos de inferioridade em quase todas as moças. Aos poucos, elas vão percebendo “na carne” que beleza e sensualidade são coisas distintas. E que o que conta é a sensualidade, o poder de provocar o interesse e o desejo dos homens. Essa mulher madura, expansiva e exuberante é atraente para os homens com ou sem algumas rugas ou quilinhos a mais.
A idéia do “sexo não-instrumentalizdo” é captada por eles e lhes dá coragem para a abordagem, sem a impressão de estar caindo numa armadilha – refiro-me aos mais sensíveis; os mais grosseiros abordam todas, pois não temem armadilha nenhuma. A aproximação, inicialmente sexual, poderá ou não evoluir para um envolvimento mais consistente. Penso que temos de aprender a lidar com isso, pois a situação se inverteu nos últimos anos. Antigamente, as pessoas primeiro se comprometiam sentimentalmente para depois se ligar sexualmente. Hoje, o sexo faz parte das coisas que as pessoas querem conhecer para saber se irão desenvolver uma ligação emocional mais estável. Não há como brigar contra a realidade.
*Flávio Gikovate é médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor. Autor, entre outros livros, de "Ensaios sobre o Amor e a Solidão", "A Liberdade Possível" e "A Arte de Educar".

domingo, 17 de abril de 2011

Eu sou a falsa loura burra - ARNALDO JABOR

"O que eu acho da mulher brasileira? Ah, sei lá, mil coisas... Eu sou a loura burra... é... (risos). Se eu não tenho opinião? Claro que tenho, cara, mas tenho de fingir que sou burra, senão os homens fogem de mim feito o diabo da cruz. Posso falar ‘mil coisas’, sim, sobre as mulheres, mas não espalha - só falo ‘off the record’. Viu? Inglês... Só falo anonimamente... É, sou culta, mas bico calado.

Vamos lá: eu acho o feminismo no Brasil um luxo de elite. Muitas mulheres de classe média resolveram de certo modo ‘assumir’ sua inferioridade social, como se fosse uma espécie de ‘libertação’. É só olhar as revistas masculinas. Ali, estão as desesperadas poses de peitos e bundas ostentando ‘independência’, ‘liberdade’...

Não se trata de a mulher entrar no mercado de trabalho, não é a busca fraternal do diálogo com o parceiro amado. O que está acontecendo no Brasil é a libertação da ‘mulher-objeto’. Não estão virando ‘sujeitos’ livres, não; elas querem ser mais ‘objetos’ ainda. É isso: o ‘sujeito’ tem limites, tem angústias; já o ‘objeto’ é mais feliz, não sofre. Por isso, somos associadas a marcas de cerveja, a pasta de dentes, a produtos de limpeza. A publicidade é toda em cima de sexo.

As mulheres querem a felicidade das coisas. Querem ser disputadas, consumidas, como um bom eletrodoméstico. E eu participo da farsa. Veja este horrendo vestido que tenho de usar: ouros, rendas, paetês - uma caricatura da corte de Luís XV. Em suma, posso ser a Bovary, a Pompadour, a Paris Hilton, a Julieta, posso ser tudo... Veja meu tipo. Quem sou eu?...

Cumpro todas as regras: peitos de silicone, coxas lipoaspiradas, bunda soerguida, sorriso debochado; tudo excessivo - curvas, volutas, refolhos, arrebiques que nos dão um ar de prostituta que subiu na vida. Mas sei também usar olhares profundos de mulher apaixonada, tudo iluminado pelos indefectíveis sorrisos largos que podem oscilar do ‘romântico maternal’ para o ‘joie de vivre’ das coquetes, mas sempre sorrisos, dentes brancos, porque a tristeza não é ‘comercial’.

É preciso dar inveja aos leitores das colunas sociais, onde se passa a ‘vida feliz’, longe do desemprego, da política, das crises econômicas.

Fingimos de bobas, mas queremos poder. Para isso é necessário uma permanente estratégia de controle sedutor sobre a lerdeza dos machos, pela histeria, pela dissimulação, pela voz doce e fina, mas cheia de perigos velados, sutis ameaças agressivas, para mantê-los com medo dos chifres... Senão, o cara não nos respeita; ele nos pega, nos come e joga fora... Ele tem de ter inveja da nossa vagina, de nossa beleza. Nosso doce veneno tem de controlá-los; além de seduzi-los, temos que fazê-los inseguros. Temos de instilar perigo no coração dos homens, para conseguir deles um poder dependente que nos legitime na sociedade...

Se, antes, as mulheres eram escravas passivas, hoje somos ativas, mas continuamos escravas. Somos aparentemente livres, mas sempre referenciadas ao macho impalpável, ao macho ignorante, ao macho que detém o poder que queremos conquistar.

Mesmo sendo frígidas, temos de insinuar grandes desempenhos sexuais. Não prometemos carinho; temos de prometer ‘funcionamento’. Não é por acaso que eles nos chamam de ‘aviões’. Temos de fasciná-los como um carro de luxo. Nunca dê garantias de fidelidade a um homem. Homem só ama mesmo pelo ciúme. Só amam quando perdem... Só o corno conhece o verdadeiro amor... Os homens deviam agradecer às adúlteras pela paixão que experimentam; deviam dizer: ‘Obrigado por me traíres’...

A revolução feminista no Brasil é a dança da garrafa... As bundas estão virando uma utopia. O sexo total que nossas gostosas prometem é impossível... Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas - mix de menina com doce vampira. Os peitos de silicone estão cada vez maiores, depósitos de leite venenoso... Outro dia, um cara quase morreu - engoliu silicone da namorada...

Nunca fomos tão nuas. Não há mais o que mostrar... Já mostramos o corpo todo, só faltam os órgãos internos... O que mais?

Ficamos em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza. Ficamos penduradas em paus-de-arara e, depois, saímos felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, e não mais as florestas que assustam os tímidos... Parecem uns bigodinhos verticais que lembram Hitler ou bigodinhos nordestinos, sabe de quem, né?

Vejam as popuzudas e cachorras. Não há mais o que rebolar... Sua nudez ameaça, assusta, se bem que, na vida real, querem apenas casar e ter filhos. Há uma hipersexualização nos costumes femininos que, na verdade, dissimula uma assexualidade mecânica...

Nunca vimos tanta propaganda de sexo te levando a comprar um sabonete ou a beber uma cerveja. A propaganda nos promete uma suruba transcendental que nos deixa com a sensação de que nosso sexo é menor, mixuruca, diante de tanto ardor.

Os sonhos viraram produto: revolta, igualdade, utopias, até o desespero e a angústia passaram a vender roupas e costumes.

A pessoa não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.

Onde estão elas no meio desses tesouros perfeitos? Aprisionadas em seu destino de sedutoras profissionais, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo.

Somos inseguras e neuróticas, mas, nas revistas, parecemos até dispensar parceiros, parecemos namoradas de nós mesmas.

A democracia de massas parece "libertar" as mulheres, mas, numa sociedade ignorante como a nossa, deu nisto: a bunda é a esperança de milhões de cinderelas. O corpo tem de dar lucro. Se alguma mulher ficar famosa, tem de tirar a roupa.

A liberdade de mercado produziu um estranho mercado da liberdade. A libertação da mulher no Brasil de hoje é uma vingança conservadora... Viu só? Eu sou uma falsa perua, sendo-a...

Agora, não vai revelar meu nome aí nesta revista, senão meu marido me mata!"
.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A MULHER BOAZINHA por Martha Medeiros



Qual o elogio que uma mulher adora receber?
Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos:
mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.
Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação,
e ela decorará o seu número.
Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito,
da sua aura de mistério, de como ela tem classe:
ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender da sua
perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe,
que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades,
que ela é um avião no mundo dos negócios.
Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade,
seu bom gosto musical.
Agora quer ver o mundo cair?
Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha.
Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja,
cuida dos sobrinhos nos finais de semana.
Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
Nunca teve um chilique.
Nunca colocou os pés num show de rock.
É queridinha.
Pequeninha.
Educadinha.
Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos.
Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas,
crucifixo em cima da cama, tudo certinho.
Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um
desejo incontrolável de virar a mesa.
Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes,
estrelas, profissionais.
Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.
Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
Pitchulinha é coisa de retardada.
Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
As boazinhas não têm defeitos.
Não têm atitude.
Conformam-se com a coadjuvância.
PH neutro.
Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções,
é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas,
apressadas, é isso que somos hoje.
Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
As “inhas” não moram mais aqui.
Foram para o espaço, sozinhas
.