terça-feira, 23 de março de 2010

Decoradora diz que nunca teve crise de idade

PAULO SAMPAIO


da Revista da Folha

"Nunca tive crise de idade. Quando fiz 60, foi o dia mais feliz da minha vida. O segredo é que sempre havia sido muito bem amada, e continuava sendo. Tive poucos amantes, mas muito bons, até 60 e poucos anos, o que é um luxo", conta a decoradora Sílvia Kowarick, que não revela a idade exata, mas diz ter passado dos 70.

Primeira a aparecer na sessão de fotos, Sílvia esperou elegantemente duas horas até que todas chegassem -mesmo quando Marília Gabriela telefonou dizendo que estava presa no trânsito, por causa da forte chuva, ela não perdeu o humor.

"Deveria ter trazido a minha peruca preta", disse, vendo Isabella Fiorentino, Andréa Bilinski e Adriana Maluf passarem as mãos pelos cabelos lisos e brilhantes, em frente ao espelho do cabeleireiro improvisado na ante-sala do estúdio.

Sem dúvida, o humor tem desopilado o fígado de Sílvia ao longo da vida -louca por um uisquinho (de preferência, com soda) e por um salão (de festa), ela diz que "graças a Deus" sempre teve uma vida social muito intensa. "Não posso me queixar, eu aproveitei muito. Acho que por isso eu continuo inteira -tenho um background de vida que me abastece de bons momentos", explica.

A vida de Sílvia se divide em antes da separação, aos 38 anos, e depois. Na primeira fase, que ela considera tão boa quanto a segunda, teve três filhos, viajou e praticou seu esporte favorito, o hipismo. "A gente vivia jogando pólo na Europa: saíamos daqui com 16 cavalos, de navio. Por 20 anos, tudo o que eu fazia era montar. Fazia salto, dressage e cross country."

Um dia, o marido a deixou por outra. Começou a segunda fase: "Meus filhos vieram até mim, em fileirinha, e disseram: 'Mãe, a vida é sua, a senhora faz dela o que quiser'. Eles sempre me paparicaram muito", diz.

Sílvia começou a trabalhar com o que sabia fazer, decoração. Abriu, com uma amiga, a loja Plano's, "a mais bonita e bem frequentada da cidade". "O pessoal aparecia lá no fim de tarde, para bebericar, e criou-se o hábito de uma happy hour informal. Tempos depois, abrimos um bar com o mesmo nome", lembra.

Ela se levanta e pega dois artigos publicados na época em "Vogue" e em "Interview", com os títulos: "Personagem da Cidade" e "Our Lady in Town". "Até hoje, saio muito, mas não sinto mais segurança para chegar às seis da manhã e dar bom dia ao sol de vestido longo", diz.

Nas colunas sociais, aparecia sempre com amigos como o decorador José Duarte de Aguiar e o empresário Aparício Basílio da Silva (já mortos). "Uma mulher sozinha é muito boicotada socialmente, barrada mesmo. Mas eu sempre tive o meu lugar", conta Sílvia.

Com os amigos homossexuais, ela frequentou muito o "grand monde". "Queria me divertir e tive a sorte de encontrar companheiros maravilhosos. Era festa todo dia, a gente viajava, tinha o 54, em Nova York, o Regines, em Paris, eu ia em tudo."

Embora diga que sempre gostou se "apresentar bem nas festas", Sílvia não sabe citar nomes de grifes. "Na minha época, a gente não tinha essas preocupações específicas. Trazia coisas boas, de fora, mas sem olhar muito para o nome na etiqueta. Você acredita que eu nunca entrei na Daslu? Não sou de me emperequitar, me visto muito esporte, nem uso cremes, e só fiz uma plástica, aos 45. Se não tivesse medo, faria mais", diz.

Sobre eventuais vícios adquiridos na época mais festeira, ela diz que se manteve fiel ao Black Label com bastante gelo e soda. "Drogas? Nunca experimentei, uma falha na minha vida. Outro dia, meu médico, que é genial, disse: 'Quando é que você vai parar de beber uísque? Bebe vinho!' Cuido do meu peso, não como muito, sempre preferi exagerar na bebida do que na comida."

O cigarro ela deixou "fantasticamente", depois de 35 anos. "Parei de fumar de um dia para outro, quando vi na TV, em um especial, que os alvéolos (pulmonares) são como um campo de avencas ao vento -levinhos, suaves. Eu olhei e disse: 'Meu Deus, o que eu fiz com o meu pulmão esses anos todos!' Deixei de fumar no outro dia e, ao cometer esse desatino, engordei dez quilos. Depois, felizmente, perdi 12."

A produção chama Sílvia para fazer a foto. Ela entra no fundo infinito branco cheia de humildade e, de repente, acende como um farol. "Ela é maravilhosa", diz o fotógrafo Rafael Assef, enquanto Sílvia alterna as poses e ri de si mesma.

SÍLVIA KOWARICK, + de 70

O que come: pouca carne -mais frango e peixe- muita salada, verdura e frutas. Faz as três refeições, mas à noite come menos

Vitaminas: C e E

Água: mais de um litro por dia

Ginástica: personal trainer três vezes por semana, em casa, e caminhada de manhã

Cigarro: parou há mais de 20 anos

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